18 de novembro de 2011

Solar da Marquesa de Santos, no coração antigo de São Paulo, é reinaugurado

O Solar da Marquesa de Santos, no Pátio do Colégio, em pleno coração da cidade de São Paulo, será reinaugurado neste sábado (19/nov.). Após três anos de obras promovidas pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), esse raro exemplar de residência urbana do século XVIII voltará a receber visitação pública. A reabertura contará com uma mostra sobre a própria marquesa Domitila de Castro Canto e Melo, célebre amante de D. Pedro I, com exposição de seus objetos pessoais.
     Foi justamente desde o largo conhecido hoje como Pátio do Colégio que os primeiros povoadores começaram a ocupar com moradias as áreas vizinhas, constituindo as ruas que dariam origem àquela que viria a se tornar a maior metrópole brasileira. É na Rua do Carmo, atual Roberto Simonsen, 136-A (antigo n.º 3), que está localizado o Solar da Marquesa de Santos.
     Não há dados precisos sobre quando foi construído. Sabe-se que seu primeiro proprietário comprovado foi o brigadeiro José Joaquim Pinto de Morais Leme, que, em 1802, o recebeu como pagamento de dívidas. O imóvel pertenceu a Domitila de 1834 a 1867, quando ele faleceu, e ficou conhecido na época como Palacete do Carmo. As festas que ela ali promovia eram famosas entre a aristocracia paulistana.
Marquesa de Santos ..Nascida em 1797 em São Paulo, Domitila casa-se aos 16 anos com o alferes mineiro Felício Pinto Coelho de Mendonça, oficial do Corpo dos Dragões de Vila Rica, Minas Gerais, para onde se mudam. Com dois filhos desse casamento, e grávida do terceiro, em 1819, volta para a casa dos pais em São Paulo, após ser agredida pelo marido. Perde o bebê pouco tempo depois.
     Sua fama surge a partir de agosto de 1822, quando conhece D. Pedro I (1798-1834), indo em seguida viver na Corte. Fruto do romance com o imperador, além de cinco filhos, Domitila foi agraciada com títulos de nobreza: baronesa, viscondessa e, em 1826, marquesa de Santos.
     Depois de sua morte, em 1867, o solar sofreu reformas que mudaram a estrutura original. Como não foi possível um restauro com as características originais de nenhuma das épocas de ocupação do solar, optou-se por preservar elementos importantes de cada uma das modificações mais antigas. O restauro do casarão custou R$ 2,7 milhões.
     Ao lado dele, a Casa Número 1 também será reaberta, após restauração ao custo de R$ 4 milhões, com exposição de Guilherme Gaensly, fotógrafo da Cia. City, mais conhecido pelas fotos de postais paulistanos do início do século XX. O imóvel passará a ser sede da Casa da Imagem, que cuidará do acervo iconográfico paulistano, com cerca de 600 mil fotografias. Essas imagens, digitalizadas, ficarão acessíveis para consulta.

Solar da Marquesa e Casa da Imagem. Rua Roberto Simonsen, 136, Centro/São Paulo. Funcionamento: de 3. a 6. (horário ainda não definido). Entrada livre. Fotos: divulgação. Indicação: Sandra Moret

10 de novembro de 2011

Luz sobre as cores

A partir da necessidade identificada no trato diário com seus clientes quanto ao uso de cores na impressão gráfica, o time da Elmefaria Comunicação e Desing desenvolveu o guia prático de quadricromia Uma Luz sobre as Cores. Não bastasse o fato de não se ter circulando no mercado brasileiro material desse tipo, esse projeto prima ainda pelo arrojo visual e objetividade dos recursos que emprega. De quebra ele está disponível gratuitamente no formato PDF no site da Elmefaria, mediante simples cadastramento do interessado.
     O guia é uma escala CMYK completa, concebido para orientar designers, profissionais de marketing e editores, dentre outros segmentos envolvidos em produção gráfica. Isso envolve aspectos como escolha de combinações e tonalidades; uso de cores especiais não contempladas pela quadricromia; comparação com escalas Pantone e de tintas; e mesmo impacto no preço final da impressão. Cada escala de cores, entendida como ferramenta para entender como as cores são compostas nos trabalhos impressos em offset, é trazida tanto em fundo branco como em preto, o que diferencia seu realce e resultado ao percebido pelo olhar humano.
     As escalas são precedidas por um breve texto que, direto e claro, expõe a teoria sobre as cores. Particularmente, foca a diferenciação daquilo visto pelo nosso olhar e aquilo que determina as cores na impressão em papel, trazendo, para tanto, os conceitos de ‘síntese aditiva’ e ‘síntese subtrativa’. São abordados também o gerenciamento das cores no cotejo entre provas e impressões, o uso de cores especiais e a relação delas com o emprego de tipos de papel. O projeto, visualmente arrojado e cuidadoso, é composto ainda pela orientação detalhada para o próprio uso das tabelas de cores.
     A qualidade de Uma Luz sobre as Cores, quando não há à disposição dos profissionais dessa área material equivalente, mais do que pede uma versão dele no suporte impresso. Desde já a Jacintha Editores se envolve nos esforços de busca de recursos que viabilizem tal produção gráfica em apoio à criativa equipe da Elmefaria.

5 de novembro de 2011

Susan Sontag: sobre fotografia

Sobre Fotografia, livro da ensaísta e romancista americana Susan Sontag (1933-2004), traz seis ensaios incontornáveis a respeito do significado e da evolução da fotografia, abordando problemas, estéticos e morais, a partir da onipresença das imagens fotográficas em nosso tempo. Ganhadora do National Book Critics Circle Award de 1977 com este trabalho, Sontag dialoga nele com a filosofia e a sociologia, com a estética e a história da arte, em estilo simples e direto em que sua brilhante erudição escorre a bom deleitar o leitor.
     A seguir, alguns recortes do ensaio ‘Na caverna de Platão’ de Sobre Fotografia (Cia. das Letras, 2008, 224p.):
     “Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada. Significa pôr a si mesmo em determinada relação com o mundo, semelhante ao conhecimento – e, portanto, ao poder. (...) Imagens fotografadas não parecem manifestações a respeito do mundo, mas sim pedaços dele, miniaturas da realidade que qualquer um pode fazer ou adquirir.
     A fotografia tornou-se um dos principais expedientes para experimentar alguma coisa, para dar uma aparência de participação. (...) ter uma câmera transformou uma pessoa em algo ativo, um voyeur: só ele dominou a situação. (...) Tirar fotos estabeleceu uma relação voyeurística crônica com o mundo, que nivela o significado de todos os acontecimentos.
     Uma foto não é apenas o resultado de um encontro entre um evento e um fotógrafo; tirar fotos é um evento em si mesmo, e dotado dos direitos mais categóricos – interferir, invadir ou ignorar, não importa o que estiver acontecendo. (...) Após o fim do evento, a foto ainda existirá, conferindo ao evento uma espécie de imortalidade (e de importância) que de outro modo ele jamais desfrutaria.
     Embora a câmera seja um posto de observação, o ato de fotografar é mais do que uma observação passiva. (...) é estar em cumplicidade com o que quer que torne um tema interessante e digno de se fotografar – até mesmo, quando for esse foco de interesse, com a dor e a desgraça de outra pessoa.
     Tirar uma foto é participar da mortalidade, da vulnerabilidade e da mutabilidade de outra pessoa (ou coisa). Justamente por cortar uma fatia desse momento e congelá-la, toda foto testemunha a dissolução implacável do tempo.
     Fotos podem ser mais memoráveis do que imagens em movimento porque são uma nítida fatia do tempo, e não um fluxo. (...) Cada foto é um momento privilegiado, convertido em um objeto diminuto que as pessoas podem guardar e olhar outras vezes.
     A fotografia dá a entender que conhecemos o mundo se o aceitamos tal como a câmera o registra. Mas isso é o contrário de compreender, que parte de não aceitar o mundo tal como ele aparenta ser. Toda possibilidade de compreensão está enraizada na capacidade de dizer não. Estritamente falando, nunca se compreende nada a partir de uma foto.
     Não seria errado falar de pessoas que têm uma compulsão de fotografar: transformar a experiência em si num modo de ver. Por fim, ter uma experiência se torna idêntico a tirar dela uma foto, e participar de um evento público tende, cada vez mais, a equivaler a olhar para ele, em forma fotografada. Mallarmé, o mais lógico dos estetas do século XIX, disse que tudo no mundo existe para terminar num livro. Hoje, tudo existe para terminar numa foto.”
“Noiva janela” (Veneza, 2011), de Oli de Castro; “Monsieur Rouge” (Versailles, 2011), de Eduardo Silveira